A votação de 9 de outubro de 2024, que mobilizou mais de 17,2 milhões de eleitores para eleger o novo Presidente da República, deputados, governadores provinciais e membros das Assembleias Provinciais, continua a ser marcada por sérias acusações de fraude. O Consórcio Eleitoral Mais Integridade divulgou um relatório preliminar detalhando práticas que distorcem a vontade popular e favorecem o partido no poder, a FRELIMO, e seu candidato presidencial, Daniel Francisco Chapo.
O consórcio denuncia a prática de anulação de votos de forma sistemática por membros das Mesas de Votos (MMV). Em Sofala, na EPC Josina Machel, no distrito de Marromeu, sete votos em branco e quatro votos de Venâncio Mondlane (PODEMOS) foram atribuídos ao candidato da Frelimo, Daniel Chapo. Episódios semelhantes ocorreram em outras províncias, como na Zambézia e em Tete, onde os presidentes de mesas usaram tinta de carimbo para invalidar votos da oposição.
Em Nampula, Tete e Niassa, foram registradas tentativas de manipulação descarada, incluindo agressões físicas e abertura de urnas antes do início da contagem. O relatório também narra episódios de votação múltipla por parte dos MMV, com observadores relatando que votos anulados acabaram sendo contados a favor da FRELIMO.
Outro ponto preocupante destacado pelo consórcio é a tentativa de compra de votos da oposição, oferecendo dinheiro para transferir votos para o partido no poder. No distrito de Tsangano, Tete, por exemplo, um presidente de Mesa ofereceu 4.000 meticais a um delegado do MDM para obter votos a favor da FRELIMO. Em Maganja da Costa, Zambézia, os valores oferecidos variavam entre 5.000 e 30.000 meticais.
O consórcio também observou dificuldades operacionais nas mesas de votação, com a falta de iluminação adequada e cortes de energia que prejudicaram o processo. Em várias escolas, como a Escola Secundária de Pebane (Zambézia) e a EPC de Thungo (Niassa), as lanternas disponibilizadas pelo STAE não eram suficientes para uma contagem precisa, o que causou atrasos e interrupções.
Edson Cortez, diretor do Centro de Integridade Pública, uma das organizações do consórcio, expressou perplexidade com a disparidade entre os números reportados nas urnas e os editais finais. Ele afirmou que “as eleições foram mais uma vez fraudulentas e não refletem a vontade do povo”. O consórcio, que contou com 1.900 observadores em mais de 1.500 locais de votação, concluiu que os resultados oficiais indicam uma vitória de Daniel Chapo com mais de 60%, enquanto a contagem paralela do PODEMOS aponta uma vitória de Venâncio Mondlane com 53%.
Os resultados finais das eleições estão previstos para o dia 24 de Outubro, mas a legitimidade do processo já está sendo amplamente questionada, com a sociedade civil exigindo uma investigação minuciosa por parte da Procuradoria-Geral da República.
O relatório do Consórcio Mais Integridade revela um cenário de profundas irregularidades eleitorais, com fraudes que incluem anulação de votos, manipulação sistemática e tentativas de compra de votos da oposição. O impacto dessas irregularidades deve acirrar ainda mais o debate sobre a transparência e justiça das eleições de 2024 em Moçambique, cujos resultados são aguardados com tensão.
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Redação: Índico News – Radar Magazine MZ®||
Fonte: Canal Moz|| Imagem: Arquivo Radar