O académico Fernando Cardoso, em entrevista à DW África, apontou que Venâncio Mondlane, candidato presidencial e opositor ao partido no poder em Moçambique, corre sério risco de vida. De acordo com Cardoso, há figuras influentes em Moçambique que veem Mondlane como um “homem a abater” devido ao seu crescente apoio popular e à sua postura crítica frente ao governo.
Após as acusações da FRELIMO de que Mondlane teria deixado os apoiantes “na hora crítica” para buscar segurança fora do país, o opositor confirmou seu retorno a Moçambique e seu compromisso em participar de protestos contra a alegada fraude nas eleições de 9 de outubro. Segundo Cardoso, porém, o partido no poder tenta atrair Mondlane para uma armadilha, utilizando uma narrativa que o acusa de “abandonar o barco” com o intuito de incitar o seu retorno e, assim, neutralizá-lo.
O acadêmico português acredita que Mondlane, sem apoio estrutural comparável ao da RENAMO, representa um “ressentimento generalizado” no país, sendo alvo de ameaças pelo seu poder de mobilização popular e de comunicação. “A FRELIMO de hoje tem tudo menos ética”, afirmou Cardoso, acrescentando que o partido não teria nenhum problema em eliminar Mondlane e em negar envolvimento, caso necessário.
Cardoso também destacou que o atual modus operandi da FRELIMO inclui o uso de esquadrões da morte – grupos organizados para assassinar opositores –, uma prática que, segundo ele, se intensificou após o consulado de Armando Guebuza, quando o partido começou a perder o apoio popular. Ele relembrou ainda casos anteriores de assassinatos políticos, como o do jornalista Carlos Cardoso, em 2000, e dos recentes assassinatos de Elvino Dias e Paulo Cuambe, que geraram críticas internacionais.
Dada a sua influência e risco iminente, Cardoso aconselha Mondlane a lutar em local seguro, mesmo que fora do país.